O Economistas na prática desta semana entrevistou a Rita Inês Paetzhold Pauli. Ela possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (1988), mestrado em Economia Rural (Campina Grande) pela Universidade Federal da Paraíba (1995), doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2004), e Pós doutorado na Cardiff University, no País de Gales – Reino Unido em Geography and Planning, no Sustainable Places Research Institute (2017).
Rita é professora associada e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Mestrado Economia e Desenvolvimento e nos Cursos de graduação do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI). Lider do Grupo de pesquisas do CNPQ Desenvolvimento, Governança, Inovação Social e Sustentabilidade (DISGOS). Ela possui experiência na área de Economia e temas interdisciplinares com ênfase em Economia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: formação econômica do Brasil e economia brasileira, economia agrícola, sustentabilidade ambiental, políticas públicas, sistemas agroindustriais e agricultura familiar.
Confira a entrevista completa abaixo.
Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?
Ainda muito jovem, tive curiosidade em compreender melhor o que lia nos jornais sobre vários grandes agregados econômicos tais como o Produto Interno Bruto, a inflação e suas causas, a dívida externa e a economia internacional. Tive curiosidade em compreender porque existem países ricos e outros pobres.
Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.
Sou professora e pesquisadora de graduação e mestrado e, tenho como atuação profissional atual na UFSM a incumbência de ser Chefe do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI). Coordeno o grupo do CNPQ DISGOS (Desenvolvimento, Inovações Sociais, Governança e Sustentabilidade). A principais pesquisas atuais envolvem estudos sobre pobreza rural e suas vinculações com o meio urbano, o setor agroalimentar sustentável e estudos territoriais, as políticas públicas. Nosso grupo de pesquisa tem caráter interdisciplinar, envolve pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento pois acreditamos que a complexidade dos problemas atuais exigem um esforço holístico de análise se a ideia é interpretar as reais necessidades que assolam a sociedade. O protagonismo da atuação das mulheres no campo da agroecologia e nas iniciativas de participação em movimentos de economia solidária são também direcionamentos atuais de nossas pesquisas.
Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?
Como tenho 57 anos de idade, digo que no período de minha graduação em média haviam 10 % de mulheres nas turmas de estudantes de economia. Atualmente a metade das salas de aula são compostas por mulheres. Isto denota um crescimento no espaço de atuação das mulheres e deverá fazer a diferença, também nas carreiras da docência e outras formas de inserção profissional no mercado de trabalho. No Departamento em que atuo o percentual de mulheres ainda é baixo, apesar de se verificar um crescimento relativo nos últimos anos.
Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.
Particularmente não sofri preconceito porém, de modo geral na minha longa jornada profissional, ouvi de alunas e outras profissionais a existência de preconceito em relação a mulher e outros grupos sociais.
Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?
Saí do interior aos 17 anos de idade tendo que trabalhar para estudar. Posteriormente, ainda na graduação, me envolvi com monitorias e projetos de pesquisa que possibilitaram uma dedicação maior aos estudos. Após a realização de pós-graduação fui aprovada em concurso público docente na UFSM.
O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?
Diria que se gostam dos estudos das ciências econômicas, que se somem a nós e que acreditem na existência de múltiplos espaços de atuação. Que economia não é só matemática nem estatística que é sim uma ciência social. Se as mulheres aumentarem seus espaços nas diferentes formas de inserção profissional do economista também poderão se verificar avanços substanciais, tais como ocorrem noutros campos profissionais.
Sinta-se à vontade para acrescentar outras informações que julgar interessante que mulheres que pretendem ou atuam na área de economia saibam.
Diria a elas que seu ingresso nos estudos dessa área de conhecimento não apenas será importante para elas, mas para o ensino da economia como um todo. Quando se ingressa em um curso de economia, tem como direcionar seus estudos fazendo diagnósticos de desigualdades em diferentes níveis. Torna-se possível atuar pró ativamente na redução de outras formas de discriminação. Sua consciência em relação ao preconceito feminino em diferentes âmbitos contribuirá para a minimização de outros preconceitos tais como os de cor, raça, orientação sexual e de classe social. A própria pesquisa Conexão Mulheres & Economia ao colocar em relevo essa discussão contribui para que se atente ao problema ainda pulsante (também) no âmbito das ciências econômicas.