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Mobilidade intergeracional de educação de concluintes do ensino superior: uma análise sob a perspectiva de níveis e fatores associados nos anos de 2004 e 2018


O ensino superior brasileiro passou por significativas mudanças nas últimas décadas, entre elas, pode-se citar a expansão do acesso, implementação de políticas afirmativas, oportunidades de financiamento e reestruturação. Tais alterações representam o aumento de oportunidades para ingresso neste nível de ensino, o qual é considerado um ponto essencial na promoção de uma sociedade mais igualitária, maiores rendimentos futuros e ascensão social.

No entanto, os efeitos da expansão nesse nível educacional ainda não foram explorados em relação a sua possibilidade de promover mobilidade intergeracional de educação, situação que ocorre quando os filhos alcançam níveis de escolaridade maior que o do seu pai, sua mãe ou de ambos. Dessa forma, nós desenvolvemos este estudo com o objetivo de identificar características associadas as chances de concluintes do ensino superior, dos anos de 2004 e 2018, apresentarem maiores níveis de mobilidade intergeracional de educação.

Os níveis de mobilidade intergeracional são classificados como alto, quando o pai nunca estudou ou completou apenas os anos iniciais do ensino fundamental; médio, caso o pai tenha completado o ensino fundamental; baixo, se o pai completou o ensino médio e nulo (ou caso de imobilidade) quando o pai concluiu o ensino superior ou a pós-graduação. A mesma classificação se aplica a mobilidade em relação à mãe.

Para atingirmos o objetivo proposto, utilizamos os microdados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes do Ensino Superior e estimamos um modelo Probit Ordenado, em que a variável dependente é o nível de mobilidade em relação ao pai e em outro modelo, em relação a mãe. Os resultados evidenciaram que as seguintes condições (isoladamente) estão atreladas a maior chance de alta mobilidade intergeracional de educação em relação ao pai e também em relação à mãe: ser mulher; ter mais de 24 anos; a família ter menos renda; ser negro, pardo, mulato ou indígena; ajudar financeiramente a família; estudar em instituição privada; ter bolsa parcial do ProUni e financiar o restante da mensalidade com a contratação do Fies; ter ingressado no ensino super por meio de cotas e concluir o curso superior na modalidade à distância.

Nós também identificamos que em 2004, a maioria dos concluintes do ensino superior tinham pais também com este nível de ensino ou ensino médio completo. Por outro lado, em 2018, os indivíduos filhos de pais com nenhuma, ou baixa escolaridade representavam a maior parte dos concluintes. Tal resultado evidencia, que ao longo dos anos estudados, as condições para que filhos de pais de baixa escolaridade consigam se formar no ensino superior, aumentaram.

No entanto, não se pode desprezar o fato de que o acesso e a consequente conclusão do ensino superior ainda abrangem uma parte pequena da população, além das inequidades em relação à cursos e instituições. Assim, o aumento do percentual dos casos de alta mobilidade deve ser visto sob a perspectiva do início de um objetivo a ser perseguido, aquele em que variáveis caracterizadas como de circunstância, como a renda familiar, raça/cor, região, escolaridade dos pais, não representem a impossibilidade de concluir o ensino superior e galgar empregos compatíveis, com salários justos. Por fim destacamos que identificar as características associadas a maior mobilidade, são úteis para explicitar a quem as políticas públicas devem ser expandidas, visando reduzir a desigualdade de oportunidades e de acesso ao ensino superior.

Para ter acesso ao artigo na íntegra acesse:

https://www.anpec.org.br/encontro/2020/submissao/files_I/i12-a23ebfa8abfdf96d7d9e112e95a92b21.pdf

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