O Economistas na prática desta semana entrevistou a Professora Drª Ana Paula Bastos, graduada em Psicologia das Organizações pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (1993), Master of Arts in Economics – University of Tsukuba, Management Science and Public Policy Studies (1998) e Doctor of Philosophy in Economics – University of Tsukuba, Institute of Policy and Planning Sciences (2002), Japão.
Ela possui pós-Doutorado nos Institutos de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) e na Universidade de Campinas (2013). Ela também foi Visiting Scholar no Instituto de Geografia da Universidade de Colônia, Alemanha (2018). Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido da Universidade Federal do Pará (UFPA) e foi vice-diretora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos /UFPA. Atualmente, Ana Paula é Professora Associada do Departamento de Gestão de Políticas Públicas da FACE, Universidade de Brasília. Tem experiência na área de economia e desenvolvimento com ênfase em Estudos Regionais e Urbanos.
Confira a entrevista completa abaixo.
Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?
Interesse pelas questões da desigualdade e desenvolvimento desigual das nações.
Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.
Estudo impactos socio-ambientais da expansão do capitalismo sobre sociedades não capitalistas. Estudo percepções difundidas entre as populações mais vulneráveis em como o aumento da renda média e dos indicadores socioeconomicos é panaceia para a aceitação de qualquer tipo de modelo de desenvolvimento, ignorando saberes e práticas tradicionais de existência. Os focos atuais de pesquisa são o Corredor Rodoviário Bi-Oceânico, Porto Murtinho portos Norte do Chile e a Expansão do Porto de Santa Marta no Norte da Colômbia.
Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?
O ensino e pesquisa universitários em Economia são um ambiente masculino. Se entre os/as estudantes existe um equilíbrio de gênero (graduação e pós), entre pesquisadores/as começam as desigualdades: mais homens vão produzir mais e também vão liderar mais projetos, vão ser maioria entre os/as professores/as. No entanto entre todas as carreiras profissionais de economista, me parece que a Universidade é a menos desigual.
Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.
Na pós-graduação em economia sim: assédio por alguns professores e “benevolência” por outros. Como optei pela carreira acadêmica na inserção e desenvolvimento de minha vida profissional não tenho percebido preconceito.
Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?
Percorri um longo caminho, desde a graduação em Psicologia do Trabalho e Empresas pela Universidade do Porto, Portugal. No meu primeiro emprego trabalhei com restruturação de empregos industriais, e uma psicóloga não era bem aceita no chão de fábrica ou pelos gestores. Decidi ir fazer Gestão para o país na moda em práticas de gestão da produção, à época: Japão. Uma vez lá me interessei muito mais pelos aspectos da economia da Inovação e como tinha a opção de mestrado em economia, eu escolhi a linha da economia. O Doutorado veio naturalmente. terminado o Doutorado, vim fazer pós-doutorado no IE da UFRJ com o prof. João Carlos Ferraz e não mais deixei de pesquisar Brasil e seu modelo de (des)envolvimento. A paixão pelo novo me levou a fazer concurso de visitante no Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará. O concurso para professor efetivo foi para a área de economia do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, onde expandi meus olhares e, apesar de leccionar teoria econômica e métodos quantitativos, passei a realizar todas as minhas pesquisas de forma interdisciplinar. Após uma breve passagem pelo IE da Unicamp para conciliar razões familiares (tratamentos de reabilitação de uma filha deficiente) com um aprofundamento das teorias de desenvolvimento ali desenvolvidas, acabei por pedir transferência para a UnB, também pelas mesmas razões familiares, onde lecciono as disciplinas de politica fiscal e economia do setor público no Departamento de Gestão de Políticas Públicas e faço parte do Núcleo de Estudos Amazônicos do Centro de Estudos Multidisciplinares da UnB. Há dois anos (2018, inserida num projeto de pesquisa com a Universidade de Colônia, Alemanha, tive uma breve passagem pelo Instituto de Geografia Econômica desta Universidade. À época estendi minha estada para aproveitar que minha filha fizesse um tratamento pioneiro de reabilitação numa unidade da Universidade. Desde o nascimento de minhas filhas muito prematuras (e mãe solo) toda a minha produção vem sendo afetada. Na verdade, minha carreira tem altos e baixos dependendo das necessidades de maior ou menor atenção à reabilitação de minha filha.
O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?
Nunca se deixarem abalar pelo preconceito que possam sofrer, nem permitir (se calar) a qualquer tipo de assédio por parte de professores ou superiores hierárquicos, colegas, supervisionados, alunos ou orientandos. Os conteúdos da economia são neutros podem ser apreendidos por ambos os gêneros, no entanto o capitalismo não o é. A inserção no mercado de trabalho discrimina a mulher por a entender responsável pelo núcleo familiar, por a considerar frágil e muitos outros etc. O núcleo familiar muitas vezes desconsidera o trabalho não remunerado da mulher e/ou não ignora a importância de seu papel profissional. Resistir e vencer!
Sinta-se à vontade para acrescentar outras informações que julgar interessante que mulheres que pretendem ou atuam na área de economia saibam.
Sugeriria ler Silvia Frederici a todas as candidatas a economista e os estudos de economia feminista a todas aquelas que já o são.